terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A Cultura em frangalhos?

Não é exatamente sobre o conceito de cultura que esse post trata, embora o assunto seja bastante ligado a ele. Falo da Rádio e TV Cultura. Essas emissoras são mantidas pela Fundação Padre Anchieta. De acordo com o site institucional da própria trata-se de "uma entidade de direito privado que goza de autonomia intelectual, política e administrativa". Ela é financiada por repasses governamentais, recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada e pela comercialização dos produtos de vídeo e áudio da emissora. A intenção de ser um corpo separado do governo e das empresas é mais ou menos (eu disse MAIS OU MENOS) a intenção da BBC no Reino Unido.

Para o pessoal da minha geração, que passou infância e adolescência nos anos 90, ou mesmo um pouco antes, a Cultura foi durante muito tempo símbolo de programação infantil de altíssima qualidade. Seja com formatos estrangeiros como O Mundo De Beakman, Tin-Tin, Doug e As Aventuras de Babar, seja com produções próprias como Rá-Tim-Bum, Castelo Rá-Tim-Bum, Cocóricó e Glub-Glub. Programas de outros segmentos como Roda Viva, Ensaio, Bem Brasil, Provocações, Cartão Verde e Opinião Nacional sempre foram símbolos de material bem produzido.

Por esses e outros programas até hoje a TV Cultura permanece como sinônimo de bom nível na programação. Mesmo que ninguém a assista, ela sempre será lembrada por essa bandeira.

Em junho de 2007, Paulo Markun, jornalista e ex-apresentador do Roda Viva, foi empossado como presidente da Fundação Padre Anchieta. Logo no mês seguinte, 17 programas da Rádio Cultura FM foram tirados do ar. Entre eles, a maior audiência da casa, o Diário da Manhã apresentado pelo âncora Salomão Schvartzman. Depois, em novembro de 2008, mais profissionais foram demitidos. Entre eles, o maestro João Carlos Martins.

Já neste ano, em janeiro não foi renovado o contrato do jornalista Luís Nassif e em fevereiro o Observatório da Imprensa e o Opinião Nacional foram retirados da grade. Ontem, Liliam Witte Fibe abandonou o barco. Ela apresentava o Roda Viva há 8 meses e sai dizendo que "Aquilo lá está um sonífero. Nem o Markun consegue assistir".

Todos esses cortes e reformulações da gestão Markun são feitos sob a justificativa de corte de custos. O que é até justificável dada a turbulência da conjectura econômica. Mas a Fundação Padre Anchieta tem se desfeito de profissionais de peso e não parece ter reposição. E louvável a intenção dessa gestão de explorar novas mídias e ainda estão lá nomes do peso de um Antônio Abujamra, um Heródoto Barbeiro ou um Rolando Boldrim. Mas a Cultura perde em importância cada vez mais e isso sinceramente é uma pena.

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