Era você tão moleca, tão descobridora dos fatos. Às vezes irritada com os percalços da vida. Éramos duas mentes de adolescentes colocados em corpos dessa idade estranha de vinte, vinte e um anos que não sabem exatamente onde estão na vida. A cada solavanco que nos fazia quase bater a cabeça no teto do ônibus, uma vez que o motorista do articulado não liga pra quem senta nas últimas cadeiras. E ríamos e ríamos.
Mas as pessoas crescem. Acho que só eu não cresço. Fico aqui, teenage dirtbag a imaginar essa puberdade tardia. Essa adolescência bêbada em que eu desequilibro as contas da faculdade e do celular com as cervejas tomadas de canto em canto e os acordes desafinados desferidos nos karaokês da vida.
Mas é você quem está certa. Certa ao arranjar uma pessoa certa para você. A enfim ter uma amiga, mulher como você e não este bufão. Ao fazer os cursos e prestar os concursos que levem a tua vida pra frente. Correndo pelas manhãs, correndo pelas frestas de garantir uma vida mais tranquila no futuro. Ah esse futuro. Ah esse maldito futuro.
E, de repente, vão-se os dias, vão-se as semanas e é cada vez mais sozinha a última cadeira do ônibus. É mais silencioso a volta pra casa. Ao invés de duas orelhas dividirem o mesmo fone, vou ouvindo sozinho o Éder Luís, o José Silvério.
Não posso nem gritar contigo. Não aconteceu nada. Você simplesmente cresceu para a vida e está fazendo o que deve. Enquanto eu, a te ver todo dia, sorrio e fico um tanto feliz, mesmo gauche. E só vem uma música na cabeça
If it's so, well, let me know
If it's no well I can go
I won't make you
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