quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O contágio e o sétimo bilionésimo

Tem um filme novo por aí. Se chama "Contágio." Vi o trailer. A premissa lembra "Ensaio sobre a Cegueira", mas sem a parte da cegueira. As pessoas vão ficando doentes sucessivamente por causa de uma moléstia que se transmite pelo ar. A doença - pelo menos no trailer - parece se transmitir rapidamente, matar rapidamente e aparentemente não há tratamento a vista.

Pelo que vi, o filme joga com o nosso sentimento de manada. Aquela coisa de que um ser humano sozinho é racional. Dois talvez. Um monte e somos todos influenciáveis e atemorizados.

A coletividade é uma coisa legal quando está tudo bem. Quando nosso artista favorito sobe num palco e canta a música que gostamos. Quando nosso time marca um gol e estamos no meio da torcida.

Mas, a bem da verdade, coletivamente somos um rebanho. A palavra "rebanho" mais do que nunca cabe aqui. Sem essa de sentido bíblico. Somos animais com medo do matadouro. Se estamos todos com fome, um bando de animais brigará por um pedaço de comida. A sede fará nos matar em busca de uma gota d'água. Se uma doença aparecer, nos isolaremos se estivermos longe, mas se estivermos todos no mesmo lugar, gritaremos em pânico e arrancaremos um a pele do outro enquanto amaldiçoamos deus e o diabo.

Somos 7 bilhões. Somos, seremos e deixaremos de ser quando uma mãe, dentro de pouco tempo, parir o oitavo bilionésimo habitante do planeta. E assim será, sucessivamente, cópula após cópula.

E ainda podemos nos dar ao luxo de nos isolarmos minimamente neste mundo de sete bilhões. Mas... e quando todos formos manada? Quando os recursos começarem a se esgotar, quando o isolamento não for mais possível, nos olharemos em pânico. Quem tiver a arma maior - financeira ou com balas mesmo - ainda será capaz de se isolar e de guardar um pouco de comida e água.

Mas é inevitável, meus amigos. Caminhamos a passos largos para a auto-destruição. Que promete ser sangrenta e recheada de agonia. Prevendo isso, eu pelo menos tento ser um pouco hedonista e não me deixar levar por essa sustentabilidade pregada por bancos, fábricas de refrigerante e governos. Não somos sustentáveis, nunca fomos. E não seremos.

Minha sorte é que eu não estarei aqui quando a convivência se tornar insuportável e guincharmos como hienas atrás de carniça. Ou o que sobrar da carniça.

Boa noite.

terça-feira, 15 de março de 2011

O imponderável e o vento

Ouço dizer no rádio que o vento é um fator muito importante a ser considerado nessa crise do Japão que se sucede. Que é o elemento controlado por Éolo poderia carregar a radioatividade pelo Pacífico até as praias do Chile e da costa oeste dos Estados Unidos e mais além até. Poderia chegar às nossas pradarias brasileiras.

Imediatamente me veio à mente um trecho de Watchmen. É quando o presidente Nixon pensa sobre o impacto que as armas atômicas russas fariam em território americano antes de um contra-ataque. Elas atingiram a costa leste inteira, mas o fator determinante para a sobrevivência americana seria o vento. Ele espalharia ou não a radiação para o cinturão agrícola ianque e decidiria se os americanos morreriam ou não de fome.

O destino está nas mãos do imponderável. Na ficção e na realidade. Na verdade, eu não tenho a menor ideia de como essa "poeira atômica" vai se espalhar pelo mundo. Se isso vai afetar gente do outro lado do mundo de onde as explosões de Fukushima acontecem. Tomara que não acontece nada e que o sofrimento dos japoneses seja o menor possível.

Mas a gente fica nas mãos do imprevisível. Ou do imparável. Alguns vêem a mão de Deus em meio às tragédias naturais. Eu sou ateu, escolhi por não acreditar no que não existe. Mas é da natureza humana querer controlar a tudo. Parece que certas coisas, no entanto, estão fadadas a permanecerem incontroláveis e a unica coisa que podemos fazer e nos adaptarmos. Ou perecermos.