terça-feira, 30 de junho de 2009

Espero estar enganado (ou porque não concordo com o #forasarney)

Olá. Vou explicar bem rapidamente o assunto porque provavelmente já sabe do que se trata. Todos conhecemos José Sarney. E a maioria de vocês conhece o twitter (se não conhece, clica aqui). Quando você publica determinada palavra com um sinal de jogo da velha (#), ela passa a ser indexada com mais facilidade nos trending topics, que é a listagem onde ficam colocados os assuntos mais comentados na rede de micro-blog. Espero que você tenha entendido.

Um movimento capitaneado por usuários como Marcelo Tas, Rosana Hermann, Rafinha Bastos, Rodrigo "Vesgo" Scarpa e Marcos Mion, todos eles com uma parcela de fama maior ou menor, mas todos com vários seguidores, decidiram utilizar e incentivar a inscrição da expressão #forasarney em suas micro-mensagens. Eles conseguiram espalhar o evangelho e a palavra apareceu entre os assuntos mais comentados da rede.

Isso é muito legal, isso é muito bonito. Mas aí eu começo a pensar e acho que se trata de esforço inútil. Já já eu passo a delinear porque tenho essa opinião, mas antes quero deixar bem claro que também acho José Sarney uma figura nefasta, um símbolo do coronelismo e todas as ofensas possíveis que você possa encaixar aqui. Só o fato dele ter buscado se eleger senador pelo Amapá pois poderia ter dificuldades em determinado ano no Maranhão (estado onde ele e seu clã mandam e desmandam há incontáveis eras) já é o bastante para a revolta.

Agora vamos aos pontos.

-Suponhamos que José Sarney se afaste da presidência do senado. EBA! YUPI! YES WE CAN! E aí no lugar dele entra... um outro qualquer. Cuja única diferença em relação ao escritor de Marimbondos de Fogo é não ter a mesma projeção e nem o mesmo poder concentrado num estado como Sarney tinha. Ele fará as mesmas coisas, cometerá os mesmos rompantes e aí... não se fará mais nada. Acabaram se as manifestações.

-Nós vivemos tempos desanimadores, pessimistas, sedentários. As manifestações, sejam elas pura baderna ou não como na Grécia recentemente, são cada vez mais raras. Não nos engajamos em mais nada, não tomamos partido pra nada. Eu me incluo nesse contingente gigante. Nunca o pós-modernismo e o conceito de fim de história chegaram de maneira tão gritante na minha mente. Aí eu observo todo mundo ensaiar uma revolta a partir de seus computadores localizados em suas casas, escritórios e lan houses. É cômodo. É muito cômodo. É planejada uma onda de protestos para o dia de amanhã (1/7). Mas aí eu pergunto: quantos que colocaram a hashtag em seus twitters estarão amanhã fazendo coro para a saída do rei do Maranhão? Essas manifestações terão coerência, engajamento, continuidade? Vou trazer a discussão para um campo com o qual estou mais familiarizado, o futebol. Vocês querem ser como o São Caetano, aparecendo bem algumas poucas vezes e depois começarem a passar suas histórias no ostracismo ou se tornarem um Manchester United onde fatores como competência, consistência e resistência fizeram do time Old Trafford uma referência mundial no futebol? Não estou pedindo para ninguém aqui se tornar uma referência mundial em protestos. Sou apenas descrente de que o #forasaney desperte a consciência política numa geração que tem se mostrado até agora indiferente a tudo que acontece. Espero estar enganado.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Pitacos sobre o diploma (1): O argumento meio bobo

O Supremo Tribunal Federal (STF) deveria votar sobre a obrigatoriedade ou não do diploma para o exercício da prática jornalística. No momento em que escrevo, já passa das 18h e não dá pra saber se a conclusão dos votos se dará hoje.

Há algum tempo, na Futebol Alternativo Off-Topics, meu fórum de discussão favorito, discutimos sobre o assunto. Naquela ocasião eu expûs o que penso sobre o assunto em alguns posts. Como a minha opinião não mudou muito, lanço essa pequena série de posts sobre o assunto.

A seguir, ipsis litteris, um argumento meio bobo, entrando de sola mesmo em quem pensava o oposto:

Gostaria que o pessoal que acha que não é necessário embasamento teórico para a prática do jonalismo escrevesse neste momento uma lauda para TV de até 40 segundos, outra para rádio em no máximo seis parágrafos e uma matéria de até 1500 toques sobre o assunto a escolher. Quero também que sugiram legendas para foto em até 67 caracteres. Acho necessário mencionar que quero uma relação com todas as fontes possíveis para que eu possa redigir a matéria também, desde a assessoria de imprensa do assunto em questão até o seu Firmino do bar da esquina que possa ter visto algo.

Ah, em duas horas.

Prometo que assim que tiver tudo isso em mãos, começo a me dedicar a autodidática na extração de pré-molares*.

*usei o argumento de dentes pré-molares pois era comparado o ofício dum jornalista a dum dentista.

terça-feira, 16 de junho de 2009

A morte de um jornal diário

Tava pra publicar isso faz tempo, mas sempre me esquecia de fazer a tradução. O Tucson Citizen, do estado americano do Arizona, encerrou suas atividades em papel e hoje conta apenas com seu website. O encerramento das atividades aconteceu por causa da - adivinhem - severa crise financeira internacional que afetou principalmente os Estados Unidos. Até o final do ano passado, mais de 100 jornais diários haviam terminado suas operações, e esse número continua crescendo.

Aqui no Brasil, os jornais diários, bem como a economia no geral, vêm mostrando certa resistência ao cenário carrancudo. No entanto, pelo menos uma grande vítima se registra: a Gazeta Mercantil, que deixou de circular ao final do mês passado.

Abaixo, vai uma carta aberta de Mark Evans, editor-chefe do Tucson Citizen, que manteve seu emprego, mas teve que dar adeus a vários de seus colegas que foram demitidos. A versão original da carta está em inglês nesta página. A tradução é minha.

Uma tristeza na redação

Eu não gosto de estar triste.

É uma droga.

Eu deveria estar feliz. Eu tenho um emprego. Ainda mais que 50 dos meus ex-colegas no Tucson Citizen não têm, e nem terão em breve, julgando pelos meus recentes esforços em [lhes] encontrar algum trabalho.

A economia é brutal. Eu quero que ela melhore rapidamente para que meus amigos possam encontrar trabalhos.

Mas isso é poliana*

Hoje, segunda-feira, estou sentado nessa imensa redação capaz de suportar 80 ou mais jornalistas ouvindo o eco da minha digitação. Não há mais agitação para apagá-lo como havia antes.

Sem risos, sem gritos, sem bate-papo, sem alguns a toa, sem o click click click de dúzias de repórteres digitando.

Só o silêncio, majoritariamente.

E isso é triste. Isso não é mais uma redação. É um depósito de mesas e computadores.

O Tucson Citizen fez uma vigília na noite de domingo num pub na quarta avenida. Quase todo mundo que costumava trabalhar aqui estava com suas esposas, parceiros, amigos e família. Eu fui com minha esposa e me senti terrivelmente na festa.

Ninguém me fez sentir dessa maneira, é claro, todos me saudavam e alguns estavam realmente felizes por mim.

Eu não sabia o que dizer. "Eu sinto sua dor" pareceria banal e dissimulado. Dizer "eu lamento" ficou velho rápidamente, então eu disse "Espero que as coisas melhorem para ti em breve."

Boa sorte? Eu não poderia dizer isso. O que a sorte tem a ver com isso/

Nada disso era nossa culpa.

Estes eram jornalistas que trabalhavam duro, que vinham aqui coletar e reportar os acontecimentos. Eles trabalhavam 60 horas por semana - mas anotavam apenas 40 em seus cartões de ponto - para assim contar aos cidadãos de Tucson o que acontecia na cidade. Repórteres cidadãos tentaram dar aos seus companheiros a informaçção que eles precisavam para tomar os rumos de suas vidas bem informados.

Eles o faziam porque amavam o que faziam, não porque era um emprego. Jornalismo é mais uma paixão que uma carreira. Aqueles sem uma chama flamejante devem ir embora logo e ir para relações públicas ou direito ou qualquer outra coisa.

Ou você ama esse trabalho ou vai fazer outra coisa. Não há meio-caminho.

Parado num canto do bar eu podia ver que o a chama ainda brilhava na maioria deles, corajosamente tremulava em outros.

Eu quero que eles encontrem outros empregos jornalísticos. Gostem ou não, não há democracia sem uma imprensa livre. Nossa sociedade, nossa cultura, nossas próprias vidas dependem dos jornalistas que coletam e reportam os fatos.

É minha grande esperança que este novo Tucson Citizen ascenda e seja a próxima grande coisa; um site que una o poder da comunidade e direcione essa energia rumo às melhorias de Tucson por meio do entendimento, perspectiva e tolerância.

Eu espero que meus ex-colegas que ainda tenham esse fogo usem-o para ingressar neste nova, desconstruída indústria de notícias - blogando as notícias, puxando os pés dos políticos para o calor, dando voz àqueles sem voz, confortando os aflitos e afligindo os confortados.

E fazendo isso, haverá um lugar a eles aqui, na sua antiga casa.

Deve haver uma maneira de ganhar alguns tostões no processo.

Talvez, isso também, seja poliana.

Talvez. Mas eu trabalharei mais duro nisso do que em qualquer coisa antes para fazer com que não seja.

Eu vou sentir a falta de cada um de vocês.

*poliana é uma palavra em inglês que descreve um positivismo exacerbado. O verbete se baseia no romance Pollyanna, onde a personagem-título sempre mantinha uma atitude otimista mesmo contra tudo e contra todos.

domingo, 7 de junho de 2009

Tempo

Há um tempo, e ele já começou há algum tempo, onde se acabaram os velhos tempos. Acabou a esperança, acabaram seus amigos, acabaram os sábados a noite. Daqui a pouco tempo os teus pais também vão acabar e você vai se transformar num adulto completo, com os anseios e necessidades de um dos nossos tempos modernos e confusos.

Daí você acaba numa madrugada de sábado para domingo, olhando fotos de tempos que já se foram e só aí você se dá conta que já passou muito tempo desde que aquelas fotos foram batidas. Você se olha, olha pros outros e relembra trejeitos, frases, interações e sonhos que se perderam ao longo do tempo. E o pior é saber que esse tipo de coisa não volta. É quando você se dá conta que um capítulo da sua vida terminou e que ele não vai reabrir. As vezes, de tempos em tempos, essas imagens tentam voltar à realidade, mas estão longe de possuir o mesmo fulgor e brilho que tiveram um dia. A mesma alegria, a mesma sensação, a mesma palpabilidade não mais existem.

Dá nostalgia.

Não é que a vida tenha melhorado ou piorado, é que apenas o coração fica nostálgico ao olhar pra esses tempos e saber que ele não volta. A relatividade nos ensinou que talvez o tempo seja semelhante ao espaço, mas ainda não podemos trafegar para frente e para trás na mesma medida que fazemos com os lugares. Por isso que só nos resta lembrar. E ter saudade, esse sentimento tão lusófono e tão difuso, que a gente nem sabe descrever, só sentir.

É sempre mais escuro antes do amanhecer.